Já lá vão os anos em que o cérebro humano ainda era desconhecido perante os olhos da Ciência. Graças aos desenvolvimentos nas áreas da biologia molecular, das novas tecnologias e aos avanços na obtenção de reagentes úteis para as investigações em neurociências, são muitas as descobertas que se fizeram nas últimas décadas. Podemos afirmar que, apesar de ainda faltar investigar e estudar muito, atualmente conhecem-se já com alguma profundidade os mecanismos pelos quais o sistema nervoso opera, a forma pela qual os neurónios comunicam e o funcionamento de muitas zonas do cérebro. Para atingir estes níveis de conhecimento foram realizados estudos in vitro, no entanto, cada dia se conduzem mais estudos in vivo, com os quais é possível ver em tempo real o efeito de determinados estímulos no cérebro. Este artigo será dedicado a 4 dos reagentes de Laboratório comercializados pela empresa Wako que são úteis para a investigação na área das neurociências.
O Iba1 de coelho é uma proteína de ligação ao cálcio pertencente ao domínio mano EF, especificamente é uma molécula adaptadora de ligação ao cálcio ionizado 1. As proteínas mano EF apresentam uma região onde, através de una configuração bipiramidal pentagonal, se unem ao cálcio. A proteína Iba1 expressa-se na microglia, cujas células atuam na defesa do sistema nervoso, pelo que estão implicadas em mecanismos de defesa cerebrais e em diversas patologias. O anti-soro anti Iba1 pode ser utilizado em investigações da área das neurociências, naquelas em que importa controlar as mudanças que a microglia sofre, nomeadamente em experiências com animais, como marcador de inflamação da microglia. Investigações atuais utilizam o anti-soro anti Iba1 para estudos da doença de Alzheimer.
O anti-soro anti Iba1 de coelho é capaz de reagir com macrófagos e células da microglia, no entanto não apresenta reatividade cruzada nem com neurónios nem com astrócitos. Além disso, é capaz de reagir com células provenientes de tecidos humanos, de ratazana e de rato. Este anticorpo policlonal obteve-se contra um péptido sintético correspondente à sequência carboxi-terminal da proteína Iba1. Pode utilizar-se em ensaios imunológicos de dupla coloração com tecidos cerebrais e culturas de células em conjunto com o anticorpo monoclonal contra a GFAP (proteína ácida fibrilar glial).
Para culturas de células neuronais, a Wako comercializa o suplemento N2 com transferrina, que consiste numa mistura de insulina recombinante com transferrina humana, progesterona, putrescina e selenito de sódio dissolvidos em PBS (buffer de fosfato salino). O suplemento N2 pode ser utilizado para substituir o soro sanguíneo das culturas celulares neuronais. Este produto pode ser utilizado tanto para as culturas de células nervosas primárias como para as culturas de células-mãe neuronais, onde a substituição do soro sanguíneo pelo suplemento N2 pode servir para manter as células não diferenciadas.
A transferrina é um fator de crescimento celular cuja função é transportar os iões de ferro do meio de cultura para as células em crescimento. A Wako dispõe o suplemento N2 com transferrina humana saturada de ferro, conhecida como holo-transferrina, mas também com transferrina não ligada a qualquer molécula de ferro, a apo-transferrina. Dependendo do tipo de neurónios da cultura celular poderá ser mais conveniente a utilização do suplemento N2 com uma das formas da transferrina do que a outra, a holo ou a apo.
A proteína marcadora olfativa, OMP da sigla em inglês (Olfactory Marker Protein), é uma proteína citoplasmática abundante em todos os vertebrados, conservada filogeneticamente e que se expresea nos neurónios olfativos maturos. Esta proteína é um componente modulador importante na deteção do cheiro e na cascata de transdução do sinal.
O anti-soro de cabra contra a proteína marcadora olfativa (anti OMP) apresenta uma grande especificidade face a neurónios olfativos maturos, assim como aos seus axónios e terminais de cortes tecidulares. É reativo com células provenientes de diversos vertebrados, como de roedores, humanas, marsupiais e de anfíbios. Para obter este anti-soro procede-se à imunização sucessiva de uma cabra com proteínas marcadora olfativa de um roedor.
O carnosol é um componente do alecrim (Rosmarinus officinalis Labiatae), concedendo a esta planta características antioxidantes. Sabe-se que o carnosol, diterpeno fenólico que pode ser extraído das folhas do alecrim, tem propriedades antioxidantes y anticancerígenas. Recentemente começou-se a investigar esta substância com o intuito de prevenir e tratar doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer e a síndrome de Parkinson.
A inativação do recetor de acetilcolina muscarínico humano por um inibidor endógeno de baixo peso molecular é provavelmente a causa da neurodegeneração que sofrem os pacientes com a doença de Alzheimer. A ação do inibidor endógeno provoca stress oxidativo, pelo que se demonstrou que o tratamento com inibidores de acetilcolinesterase não é suficiente: que este deve ser acompanhado de antioxidantes, constituindo o carnosol uma das possíveis moléculas a utilizar para este tratamiento.
No caso da doença de Parkinson comprovou-se que o carnosol exerce efeito protetor sobre a neurotoxicidade induzida pela rotenona em culturas de células dopaminérgicas, através da regulação da caspase-3. Além disso, o carnosol aumenta significativamente os níveis da tirosina hidroxilase, regulando o sinal extracelular-cinase. Estes resultados sugerem que o carnosol pode ter potencial como elemento chave no desenvolvimento de novos fármacos para tratar a doença de Parkinson.
1. Lisa Kercher, Cynthia Favara, James F. Striebel, Rachel LaCasse, and Bruce Chesebro, J Virol. 2007; 81(19): 10340–10351.
2. Iwai, N., et al., Stem Cell 2008; 26:1298 –1306.
3. Hidaka, R., et al., Stem Cell Research & Therapy 2013, 4:51.
4. Fawcett JR1, Bordayo EZ, Jackson K, Liu H, Peterson J, Svitak A, Frey WH 2nd., Brain Res. 2002 Sep 20;950(1-2):10-20.
5. Kim, S. J., et al., Neuroreport. 2006 Nov 6;17(16):1729-33.
Anti-OMP – Neurociências (teste olfativo) | Coelho Anti IBA-1 |